CAPITULO
VI – C10
- Então é isso? –
perguntou Tobias.
- É? – O Homem de preto
bebeu de um só gole o copo de vodca.
- Quanto tempo você
tem?
- Agora? – ele franziu
a testa. – Acho que umas duas semanas.
- Por isso a pressa em
chegar até a bruxa, certo? – Tobias comeu um pouco de purê de batatas.
- Ela é a melhor que
existe em localizar pessoas. – ele mastigou um pedaço de frango.
Os dois se olharam em silêncio. O Homem de
preto colocou mais vodca em seu copo e riu.
- Aposto que foi a
vadia que mandou aqueles dois filhotes de chupa-cabra.
- Deve ter sido. –
Tobias deu de ombros. – Você tem tantos amigos não é? – o velho índio fez aspas
com as mãos ao dizer amigo.
- Conseqüências meu
velho, conseqüências.
Tobias levantou-se e foi saindo da cozinha. O Homem de
preto olhou intrigado.
- Ei! Pra onde você
vai?!
- Espere aqui, não
demoro.
- Pronto! Que diabos
esse velho doido tá tramando? – pensou o homem de preto.
Poucos instantes depois o outro voltou com uma espingarda
de caça nas mãos e uma cinta com munição. Parou diante do jovem amigo rindo.
- Vamos!
- Pra que isso?!
- Eu sou um curandeiro
garoto, esqueceu? – Tobias deu um cascudo nele e ficou sério – Não conheço
nenhuma magia de ataque e não sei lutar muito bem. Por isso vou levar minha
amiga aqui. – a tosse veio com força.
- Acho que tô começando
a mudar de idéia sobre você vir comigo. – ele levantou-se e pousou a mão sobre
o ombro do amigo. – É melhor você ficar e cuidar de sua saúde.
- Nem pense nisso! –
disse desvencilhando-se do amigo.
- Tobias sua saúde tá
frágil e essa arma não vai ser muito útil, fique.
O índio riu alto e tossiu.
- Tolo! Você só sabe
destruir e matar. – ele ergueu a arma – Sarissa colocou um encantamento de fogo
aqui, ela pode causar um bom estrago!
O Homem de preto riu e colocou as mãos nos bolsos.
- Bem, estão vamos,
ainda tenho que comprar roupas novas pra mim.
Os dois saíram e pararam diante de uma Chevrolet c10
azul. Tobias abriu a porta do lado do motorista.
- Nós vamos nisso?!
- Olha como fala
moleque! Esta aqui é um clássico e é melhor que muito carro moderno. Agora
entra ou vai andando.
O Homem de preto entrou na c10 e Tobias deu a partida. O
carro saiu devagar pelas ruas da cidade ganhando velocidade aos poucos a medida
que se aproximava da estrada norte que era o caminho até a floresta na qual a
bruxa vivia.
***
Cailena estava às margens de um lago em sua floresta
observando através das águas escuras e paradas o homem de preto e o velho índio
que havia juntado-se a ele. Ela estava temerosa, não com Tobias, mas, sim com o
outro. Os rumores sobre a brutalidade e o poder dele estavam mostrando-se
reais.
Ela ergueu as mãos, olhou para o céu e gritou com uma voz
gutural. Nuvens começaram a se aglomerar logo acima do lago. Cailena fitou o
centro do lago.
- Senhor da desolação,
mestre da dor, arauto da carnificina! Filho da grande Lilith! Eu o convoco o
poderoso Asriandir! – Cailena descreveu um arco com umas das mãos e uma criança
em transe surgiu ao seu lado e uma adaga na outra mão. – A ti ofereço este
sacrifício de carne e sangue, ó poderoso Asriandir, vinde a mim!
Ela colocou a criança a sua frente olhando para o lago e
rapidamente degolou o infante, segurando a cabeça dele para que o sangue
espirasse nas águas escuras.
O sangue escorria fartamente caindo no lago. Quando a
criança estava quase no fim de sua vida Cailena jogou-a nas águas diante de si
gritando.
- Asriandir! Asriandir!
Eu invoco a ti!
As águas do lago se moveram em redemoinho e aos poucos
uma criatura foi erguendo-se de seu centro. Seu torso era escuro como ébano e
robusto, seus braços terminavam em garras poderosas, a boca era repleta de
dentes de tubarão, os olhos poços de lava, chifres de carneiro brotavam-lhe da
testa e da cintura para baixo era um corpo de pantera com cauda de escorpião.
Ele facilmente alcançava o tamanho de um elefante e trazia nas garras o corpo
da criança ainda agonizante.
- Seu sacrifício foi
aceito com prazer mulher. – disse Asriandir com uma voz rouca e tenebrosa
devorando o corpo infantil.
Cailena riu alto. Trovões soaram ao longe anunciando uma
tempestade.
***
O Homem de preto olhou
pela janela da C10 o horizonte e viu que uma tempestade aproximava-se e riu.
Tobias olhou para ele intrigado.
- O que foi? –
perguntou o velho.
- Vai chover.
- E daí?
- Gosto muito de chuva!
- Agora entendi. - Tobias riu – Tá ai uma coisa que não se vê
todo tempo!
- O que? – Perguntou o Homem de preto.
- Você dizendo que
gosta de alguma coisa.
Os dois amigos riram. E o Homem de preto lembrou-se de um
tempo em que risadas como aquelas eram constantes e o riso morreu em sua
garganta.
Porque ele sabia que esses tempos não voltam mais.
- Acelera. Essa estrada
é uma merda quando chove.
Tobias acelerou levantando poeira, aproximando-se cada
vez mais da floresta da bruxa.
Tá ficando cada vez melhor."- Senhor da desolação, mestre da dor, arauto da carnificina!" Que maravilha!!! Eu quero ver sangue.
ResponderExcluirZé