CAPÍTULO X – Irlanda, Cinismo, Adeus.
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Anjo?! Você tá tirando onda com minha cara!- riu o Homem de preto – Porque um
anjo sequestraria minha filha?
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Não sei. – Cailena sentou-se na cama – Mas o que sei é que ele é poderoso.
Das sombras surgiram duas criaturas
homem-corvo, Tobias e o Homem de Preto se colocaram em posição de guarda
esperando um ataque dos seres.
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Calma, eles não estão contra vocês, agora. – Cailena ajeitou-se na cama cansada
– Só estão preocupados comigo.
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Onde é que eles estavam que não vimos? – indagou o velho índio preocupado.
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Nas sombras, me guardando. – ela riu sem forças – Venham meus filhos.
As criaturas se aproximaram da bruxa
que lhes afagou a cabeça e logo vários deles foram saindo das sombras e a
rodeando. Os dois homens se afastaram e ficaram a observar a cena estranha. Os
seres emitiam um grunhido baixinho similar a um ronronar. Aquela visão era
bizarra e ao mesmo tempo bela.
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Calma, não se preocupem meus filhos. Eu estou bem, só estou um pouco cansada. –
ela sorriu – Agora vão.
E lentamente os homens-corvo foram
adentrando e sumindo nas sombras da casa. Ela olhou para os outros dois na sala
e riu serenamente, rugas de expressão se formaram envolta de seus olhos.
- E
onde fica esse lugar que você viu? – perguntou o Homem de preto.
- Na
Irlanda.
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Nunca fui lá. – disse o Homem de preto como se não desse muita importância à
informação – Dizem que é um lugar bonito.
Tobias
olhou o amigo desconfiado. Aquele cinismo dele era perigoso.
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Muito bonito mesmo, já estive lá algumas vezes. – Cailena levantou-se devagar e
caminhou até uma mesa com vários livros. Pegou um pedaço de papel e com uma
caneta tinteiro antiga rabiscou algo. – Aqui, pegue.
- O
que é isso? – Perguntou o Homem de preto desconfiado.
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Como chegar onde sua filha está.
Ele pegou o pedaço de papel de forma
rápida e brusca da mão de Cailena. O olhou por um tempo e guardou no bolso da
calça esfarrapada. Fitou a bruxa e riu de forma enigmática.
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Obrigado! – disse O Homem de preto e caminhou até a porta.
Tobias foi caminhando na direção
dele.
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Você fica velho! – disse sem virar-se – Não quero nenhum aleijado me
atrapalhando.
O Homem de preto olhou para o amigo,
tinha um sorriso cínico e maldoso, seu olhar era puro escárnio. Tobias e
Cailena estremeceram.
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Que porra é essa agora?! – Gritou o velho índio.
A resposta veio de forma inesperada
para ele. O Homem de preto estava de mão erguida na direção dele, e segurava a
pistola preta.
- Se
tentar vir atrás de mim estouro seus miolos aqui mesmo. – lambeu os lábios de
forma maliciosa e riu. – Já disse que não quero nenhum aleijado me
atrapalhando.
Tobias cerrou o punho com força, seu
olhar fuzilava o amigo a sua frente que continuava a apontar uma arma em sua
direção. O velho baixou a cabeça e caminhou até a mesa e sentou-se. Cailena olhava
atônita para aquilo, não entendia o que se passava.
O Homem de preto abaixou a mão e dissolveu
a pistola no ar, virou-se e saiu da casa da bruxa sem falar mais nada.
***
Cailena olhava para Tobias incrédula.
Aqueles dois quando chegaram a sua casa pareciam serem grandes amigos, mas,
agora ela não sabia o que tinha acontecido. Ela caminhou até o velho e
tocou-lhe o ombro. Ele ergueu a cabeça e riu de forma descontraída.
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Ele é um filho da puta!
Ela desistiu de tentar entender o
que estava acontecendo. Tinha coisas mais importantes para fazer, descobrir
quem tinha tramado para ela e o Homem de preto.
***
Enquanto caminhava O Homem de preto
jogava as chaves do C10 de Tobias para cima. Tinha pegado-as quando sentou ao
seu lado na floresta depois de matar o demônio. Seus pensamentos se resumiam a
formas de causar dor e sofrimento a um anjo e ele riu ao perceber que sabia
várias formas de fazer isto.