quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O tempo passa


A mão treme
A boca está seca
A respiração ofegante
O tempo passa

Os olhos ardem
Os ossos doem
Os sons mudam
O tempo passa

O mundo deteriora-se
O sol extingue-se
As estrelas morrem
O tempo passa

O relógio para
O rio seca
As montanhas erodem
O tempo passa

O tempo simplesmente...
Passa

domingo, 20 de novembro de 2011

Tic, tac


Tic, tac
Tic, tac
O som me enlouquece
Tic, tac
Tic, tac
Quisera eu que fosse o relógio
Tic, tac
Tic, tac
Este é o som de minha alma
O som de uma alma
Que está prestes a explodir
O som da ruína de um ser
Tic, tac
Tic, tac
O tempo se esgota

Tic

Tac

Tic...

É o fim.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O Homem de preto - Capitulo V


CAPITULO V – Devaneio, cura, reencontro.

            A mulher lhe sorria amavelmente, seus cabelos castanhos longos e cacheados, eram agitados pelo vento da praia. O sol caia devagar no horizonte, o céu estava vermelho. O homem de preto olhava para ela atônito, sua voz estava presa na garganta. Ele já tinha vivido aquilo, só não lembrava quando.
            Ela caminhou devagar até ele estendendo-lhe a mão. O Homem de preto tocou as pontas dos dedos da mulher, logo suas mãos se entrelaçaram e os corpos estavam juntos em um forte abraço. Ele fitou os doces olhos azuis dela e inclinou a cabeça até os narizes se encostarem. Foi então que tudo desmoronou.
            O cheiro de podridão invadiu o olfato como ácido, fazendo-o afastar-se da mulher. Ele a fitou e o pavor se estampou em seu rosto, pois diante de si a carne dela rapidamente se deteriorava e era consumida por vermes.
- Venha... Me possua... Faça amor comigo – ela caminhava em direção ao Homem de preto.
            Ele apenas a olhava, via a carne cair aos pedaços de seu corpo e ela vir em sua direção. Não movia um músculo sequer, o que sentia era uma mistura de medo, repulsa, pena e raiva.
            Ela tocou-lhe o rosto e ele gritou.

***

            O suor escorria por todo seu corpo, era só um pesadelo. Mas tinha sido muito real. O Homem de preto olhou a sua volta, estava num quarto sem janelas, com um único móvel, a cama de solteiro na qual ele estava em cima.
            Ele olhou para a ferida no ombro, estava cicatrizada e ataduras envolviam seu tórax, perguntou-se onde estaria e quem cuidou de suas feridas. E como se para que responder suas perguntas, a porta do quarto se abriu e por ela passou um homem alto, com traços indígenas, cabelos longos e brancos, com duas tranças finas adornadas com penas, ossos e pedras que pendiam ao lado dos olhos sérios.
            O Homem de preto deu um meio sorriso, havia descoberto onde estava. O lugar pertencia a Tobias Burian, o curandeiro. Mas tinha um problema, ele não morava naquela cidade.
Quando seus olhos se cruzaram com os de Tobias ele se lembrou de um tempo que há muito tentava esquecer. O olhar dele era frio como as geleiras árticas. Ele caminhou devagar até o homem de preto que desviou o olhar.
- No que você se meteu meu amigo? – Sua voz era grossa, mas expressava verdadeira preocupação.
- Em muita merda!    
            Tobias sentou-se na cama.
- Como me achou e sabia que precisava de ajuda?
- Eu coloquei um feitiço de condição em todos do bando desde a última vez que nos vimos. – ele viu a expressão de quem não entendeu nada no rosto do amigo e riu – É um feitiço que monitora a saúde dos alvos.
- Nunca fui bom nessas coisas.
            Ele puxou do bolso um cordão com vários cristais brutos que brilhavam na cor azul, com exceção de um, que emitia um brilho púrpura.
- Este é você. – Tobias apontou para o púrpura – Sabe porque ele emite um brilho diferente dos demais não é?
- Posso imaginar. – o Homem de preto passou a mão pelos cabelos e suspirou profundamente.
- Bem... – o velho índio respirou com força – Ontem à noite o seu cristal mudou de cor, ficou vermelho. O que significava que você estava perto da morte...
            Tobias respirou com mais força ainda e colocou a mão no peito. O Homem de preto saltou da cama e parou de frente para ele com a mão nos ombros do mesmo.
- Tobias, o que você tem?! – perguntou alarmado.
- Nada! – disse o velho afastando as mãos do amigo – Agora sente-se e me deixe terminar de contar a história.
            Ele encarou o velho medindo forças com o olhar, mas, no fim cedeu.
- Tá!
- Eu vim até a cidade atrás de você. Fiquei sabendo sobre o que aconteceu na igreja e senti que estaria com problemas. – ele respirou com dificuldade novamente – E assim que pisei aqui o cristal mudou de cor e pra te achar foi só seguir sua energia peculiar.
 - Obrigado! – disse o homem de preto - Mas, como soube das coisas que eu estava fazendo?
- Ora, você é o Homem de preto não é?! – riu alto Tobias – mesmo sem saberem os motivos, as pessoas sabem que você está agindo e sentem medo. Daí as fofocas rolam soltas.
            Os dois ficaram calados por um tempo sem se olharem.
- Eu agradeço o que você fez por mim, mas, agora tenho que ir. – o Homem de preto ia se levantando da cama quando Tobias segurou seu braço o detendo.
- Escute, o caminho que você está seguindo ainda tem volta. – o olhar do velho exalava preocupação – Não se deixe dominar.
- Ninguém está me dominando. – ele segurou as mãos de Tobias entre as suas – Estou completamente ciente de meus atos.
- Então você sente prazer em trabalhar como mercenário pra qualquer ser sobrenatural que pague bem.
            O Homem de preto respirou fundo o fitou e abriu um sorriso cínico nos lábios.
- Às vezes nem precisa pagar bem.
- Você mudou muito.
- As pessoas mudam, e eu tive que mudar pra sobreviver. – seu olhar irradiava raiva – Minha vida virou uma bosta desde aquele dia. Eu só fiz me foder de lá até aqui.
- Eu sei, estava lá lembra? – Tobias abaixou a cabeça – E foi por isso que se afastou de tudo e de todos.
- Era isso ou levar todo mundo pra fossa comigo.
- Mas agora você não tem contrato nenhum. – ambos se fitaram – Eu pesquisei, falei com Drake e ele me disse que você tem recusado contratos.
            Ele fez uma pausa, esperando uma resposta que não veio.
- Me fala o que você tá fazendo?
- Infelizmente é melhor você não saber, tem muito em jogo e não quero que você corra risco algum por minha causa.
- Olha pra mim, já tô perto de morrer. – Tobias sorriu – Se não puder ajudar um amigo de que adianta ter vivido.
- Mesmo que essa ajuda possa custar sua vida?
            Tobias riu alto.
- Mesmo assim. Você perdeu tudo por nós, dar minha vida pra te ajudar é o mínimo que eu poderia fazer.
            O Homem de preto cruzou os braços e fechou os olhos. Para qualquer outra pessoa ele estaria pensando no assunto, mas, Tobias sabia o que estava acontecendo e não gostava nada daquilo.
- Tá ok! – ele riu e esticou a mão para o velho que apertou a mesma.
- Venha você deve estar com fome não é? – disse Tobias se levantando da cama – Ainda deve ter frango e purê de ontem.
- Tem vodca?
- Tem.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Além ao longe

Venha a mim
Ouça o chamado de tua alma
Sinta o arranhar da agonia em teu corpo

Venha a mim
Cavalgue pelos vales nebulosos
Cruze os oceanos do desespero

Venha a mim
Encontra em meu ser
Teu destino e tua morada
Teu início e teu fim
Teu suplício e teu prazer

Venha a mim
O moldador de sonhos

Venha a mim
Pois eu sou aquele que está
Além ao longe

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Anjo Renegado


Como um anjo renegado
Vivi minha vida
Sem pátria, paz, amor ou esperança

Como um anjo renegado
Deixei as trevas e a tristeza tomarem conta do meu coração
Vaguei por entre os becos escuros da vida
Escondendo-me dos olhares de todos
Ocultando minha vergonha
Com medo de encarar a mim mesmo

Como um anjo renegado
Desdenhei de tudo e todos
Gritei ofensas ao vento

Como um anjo renegado
Chorei sangue
Encolhido nas trevas