segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O Homem de preto - Capítulo X


CAPÍTULO X – Irlanda, Cinismo, Adeus.


- Anjo?! Você tá tirando onda com minha cara!- riu o Homem de preto – Porque um anjo sequestraria minha filha?
- Não sei. – Cailena sentou-se na cama – Mas o que sei é que ele é poderoso.
            Das sombras surgiram duas criaturas homem-corvo, Tobias e o Homem de Preto se colocaram em posição de guarda esperando um ataque dos seres.
- Calma, eles não estão contra vocês, agora. – Cailena ajeitou-se na cama cansada – Só estão preocupados comigo.
- Onde é que eles estavam que não vimos? – indagou o velho índio preocupado.
- Nas sombras, me guardando. – ela riu sem forças – Venham meus filhos.
            As criaturas se aproximaram da bruxa que lhes afagou a cabeça e logo vários deles foram saindo das sombras e a rodeando. Os dois homens se afastaram e ficaram a observar a cena estranha. Os seres emitiam um grunhido baixinho similar a um ronronar. Aquela visão era bizarra e ao mesmo tempo bela.
- Calma, não se preocupem meus filhos. Eu estou bem, só estou um pouco cansada. – ela sorriu – Agora vão.
            E lentamente os homens-corvo foram adentrando e sumindo nas sombras da casa. Ela olhou para os outros dois na sala e riu serenamente, rugas de expressão se formaram envolta de seus olhos.
- E onde fica esse lugar que você viu? – perguntou o Homem de preto.
- Na Irlanda.
- Nunca fui lá. – disse o Homem de preto como se não desse muita importância à informação – Dizem que é um lugar bonito.
Tobias olhou o amigo desconfiado. Aquele cinismo dele era perigoso.
- Muito bonito mesmo, já estive lá algumas vezes. – Cailena levantou-se devagar e caminhou até uma mesa com vários livros. Pegou um pedaço de papel e com uma caneta tinteiro antiga rabiscou algo. – Aqui, pegue.
- O que é isso? – Perguntou o Homem de preto desconfiado.
- Como chegar onde sua filha está.
            Ele pegou o pedaço de papel de forma rápida e brusca da mão de Cailena. O olhou por um tempo e guardou no bolso da calça esfarrapada. Fitou a bruxa e riu de forma enigmática.
- Obrigado! – disse O Homem de preto e caminhou até a porta.
            Tobias foi caminhando na direção dele.
- Você fica velho! – disse sem virar-se – Não quero nenhum aleijado me atrapalhando.
            O Homem de preto olhou para o amigo, tinha um sorriso cínico e maldoso, seu olhar era puro escárnio. Tobias e Cailena estremeceram.
- Que porra é essa agora?! – Gritou o velho índio.
            A resposta veio de forma inesperada para ele. O Homem de preto estava de mão erguida na direção dele, e segurava a pistola preta.
- Se tentar vir atrás de mim estouro seus miolos aqui mesmo. – lambeu os lábios de forma maliciosa e riu. – Já disse que não quero nenhum aleijado me atrapalhando.
            Tobias cerrou o punho com força, seu olhar fuzilava o amigo a sua frente que continuava a apontar uma arma em sua direção. O velho baixou a cabeça e caminhou até a mesa e sentou-se. Cailena olhava atônita para aquilo, não entendia o que se passava.
            O Homem de preto abaixou a mão e dissolveu a pistola no ar, virou-se e saiu da casa da bruxa sem falar mais nada.


***

            Cailena olhava para Tobias incrédula. Aqueles dois quando chegaram a sua casa pareciam serem grandes amigos, mas, agora ela não sabia o que tinha acontecido. Ela caminhou até o velho e tocou-lhe o ombro. Ele ergueu a cabeça e riu de forma descontraída.
- Ele é um filho da puta!
            Ela desistiu de tentar entender o que estava acontecendo. Tinha coisas mais importantes para fazer, descobrir quem tinha tramado para ela e o Homem de preto.

***

            Enquanto caminhava O Homem de preto jogava as chaves do C10 de Tobias para cima. Tinha pegado-as quando sentou ao seu lado na floresta depois de matar o demônio. Seus pensamentos se resumiam a formas de causar dor e sofrimento a um anjo e ele riu ao perceber que sabia várias formas de fazer isto.