domingo, 8 de janeiro de 2012

O Homem de preto - Capítulo VII


CAPITULO VII – Sangue, dor e dois canos fumegantes

            A floresta descortinava-se diante deles, imponente, antiga e misteriosa. Desafiava-os a entrar nela, a ousar cruzar por entre suas árvores. Os troncos velhos e altos eram cobertos por uma densa folhagem que mal deixava os raios de sol passar. O chão era forrado por folhas murchas e úmidas, conferindo um odor peculiar ao lugar.
            Os dois homens desceram da C10 e olharam-se. O Homem de preto riu cinicamente e fechou a porta do veículo. Tobias fechou a sua porta e com o chaveiro em mãos apertou o botão de alarme ligando-o. O homem de preto ergueu a sobrancelha, curioso.
- Essa coisa tem alarme?!
- Essa coisa não! Seu porra! – Tobias gritou com raiva – Já falei que ela é um clássico. E é lógico que tem alarme! Você acha que eu vou dar bobeira e deixar minha belezinha ser roubada?!
- Mas você poderia encontrar o ladrão fácil, fácil. – eles conversavam enquanto andavam.
- É, mas pra que facilitar não é?
            O Homem de preto balançou a cabeça rindo de forma descontraída.
Já estavam andando há alguns minutos quando ouviram um rugido vindo da frente e um trotar vindo em direção deles. O som de troncos partindo-se era audível.
- Que merda é essa que tá vindo ai? – perguntou Tobias engatilhando a espingarda.
- Algo grande, forte e mal! – riu o homem de preto – E que tá doidinho pra nos fazer em pedaços.
            Jogando as árvores para longe uma criatura bizarra surge diante deles rugindo, ele tinha o tamanho de um elefante, negro como o ébano, chifres bromavam da testa, a parte inferior era de uma pantera com rabo de escorpião e a de cima de um homem musculoso. Seu nome? Asriandir.
            Ele olhou para os pequenos humanos a sua frente e riu.
- A bruxa me invocou para cuidar disso?! – sua voz gutural ecoou pela floresta.
- Quem é você demônio? – gritou Tobias.
- Como ousa se dirigir a mim verme! – seus olhos brilhavam como brasa acessa – Eu sou Asriandir, filho de Li...
            Dois tiros atingiram o rosto do demônio impedindo-o de terminar a frase. O homem de preto estava com suas duas pistolas na mão. Asriandir gritou de dor e olhou surpreso e furioso para o seu agressor.
- Tu fala demais bicho feio! – disse o Homem de preto rindo.
- Vou te fazer em pedaços lixo humano! – rugiu o demônio atacando o homem de preto.
            Tobias e ele esquivaram-se das garras que rasgaram as pedras do chão como se fossem nada.
            O Homem de preto atirou rapidamente contra o inimigo, que apesar do tamanho, esquivou-se das balas. O que deixou ele surpreso com aquela velocidade. E em sua distração foi atingido pelas garras do monstro. Sangue jorrou fartamente encharcando o chão da floresta e o corpo dele cai inerte chocando-se contra uma árvore.
            Tobias gritou pelo amigo enquanto disparava sua espingarda, que em vez de balas cuspia fogo. Asriandir foi atingido por um tiro e gritou. Ele girou o corpo com velocidade e atingiu Tobias com sua cauda de escorpião no braço.
            O braço de Tobias começou a necrosar rapidamente, fazendo-o largar a arma e encostar-se a uma árvore.
            O demônio caminhava devagar em direção ao velho índio. Ele ria maliciosamente.
- Vou brincar com você velho!
- Vá se foder! – gritou Tobias.
            Asriandir só sentiu o impacto das balas perfurando sua carne. Nem um som foi ouvido. Ele cambaleou e olhou para trás, seus olhos arderam em chamas. O homem de preto estava em pé com duas pistolas negras e com runas vermelhas brilhantes em mãos.
- Você é rápido? – ele riu cinicamente – Eu também sou.
- Como você ainda está de pé?!
            O Homem de preto atirou contra o peito do demônio, atingindo-o em cheio. Asriandir avançou contra ele rugindo de ódio e dor, golpeou com as garras e com a cauda. O Homem de preto esquivou-se dando um salto mortal para trás e no meio do salto quando estava de cabeça para baixo atirou em um dos olhos do monstro. Sangue brilhante jorrou e ao tocar o chão borbulhou.
            Tobias arrastou-se devagar para longe do combate, seu braço doía e a necrose espalhava-se rapidamente. Segurava a espingarda com o outro braço. Encostou-se em uma pedra, respirou profundamente, encostou o cano da arma no braço ferido e disparou arrancando-o antes que o veneno se espalha-se mais e ele morresse.
            Tobias gritou alucinadamente enquanto seu sangue escorria pelo seu corpo.
O Homem de preto atirava sem parar enquanto se esquivava dos ataques do demônio. A criatura infernal olhou para aquele humano a sua frente, e pensou em quem era ele, como estava vivo ainda.
- Vou mastigar seus ossos verme! – gritou Asriandir.
            O demônio rugiu e ondas de calor começaram a emanar dele.
            As folhas no chão incendiaram-se, os troncos das árvores estavam em brasa. Os olhos demoníacos brilharam e uma explosão consumiu a área onde ele e o Homem de preto estavam. Tobias olhava atônito e quase desmaiado, seu amigo ser consumido pelas chamas.
            Em meio à destruição, Asriandir ria. Só haviam restado cinzas e brasas. Ele virou-se e encarou um Tobias debilitado.
            Um barulho em meio à destruição na floresta chamou a atenção do demônio. Quando ele olhou para onde vinha o som. Ele ficou surpreso.
            O Homem de preto estava em pé entre as chamas, suas roupas estavam queimadas e ele estava coberto de cinzas. Seu olhar era puro ódio e estava desarmado.
- Vou divertir m... – o demônio não conseguiu terminar a frase.
            O Homem de preto estava em cima dele socando seu estômago. Socou repetidas vezes o tórax enorme. Cada soco era para o demônio como o impacto de uma bomba. Com o ultimo golpe Asriandir foi jogado para longe.
            Ele ficou furioso, como um lixo humano como aquele o estava vencendo. Ele filho de Lilith, Senhor da carnificina, da desolação. Como?!
            O Homem de preto avançou em sua direção, o demônio golpeou com a cauda. O humano segurou-lhe a mesma e em um rápido movimento a arrancou, causando uma dor extrema no inimigo.
            Asriandir atacou loucamente o homem de preto, mas todos seus golpes o erravam e num piscar de olhos seu braço esquerdo foi arrancado.
            E em um piscar de olhos o demônio invocado pela bruxa para matar o Homem de preto agonizava no chão.
            O Homem de preto aproximou-se dele olhou-o nos olhos e invocou sua pistola.
- Quem...é...você?! – a voz do demônio fraquejava – Como...pode...eu sou filho de Lilith! – sangue escorreu dele que estava sem os dois braços, cauda e uma perna – O que é você?
- Pior que você.
            Disse secamente o Homem de preto e estourou a cabeça do demônio.
            Ele olhou para Tobias que estava realizando um feitiço de cura.
- Você tá legal? – perguntou o Homem de preto.
- É óbvio que não seu animal! – Rugiu Tobias – Eu perdi um braço!
- Eu disse que ia ser perigoso. – disse sentando ao lado do amigo
- É eu sei. - o feitiço estava surtindo efeito e o ferimento estava se fechando – E agora?
- Vamos caçar uma bruxa. – riu o Homem de preto.


           



terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Utopia

Vamos nos iludir
Vamos criar uma utopia
Vamos sonhar e acordar
Em um mundo frio e cruel

Vamos ser tolos
E achar que o ser humano é bom
Que as pessoas se importam
Mais com o próximo
Do que com o celular novo

Vamos ser mesquinhos
E pensar só em nós
Ignorarmos as súplicas do mundo
Chutarmos para bem longe
O futuro de nossos filhos

Vamos dilacerar a garganta de nossos irmãos
Em busca de fama, poder e riqueza
Porque vale mais
Que o amor, amizade e respeito

Vamos nos destruir
Aniquilar famílias, cidades inteiras
Afinal
Para quê ter respeito pela vida, por nós mesmos

Vamos ser nós mesmos
E chorar por tudo que não fizemos
Vamos gritar
Por todas as desculpas falsas que demos

Vamos nos olhar
E vermos nossa alma despedaçada
E só então veremos
Que nem adianta mais
Criar uma utopia
Pois já é tarde

Vamos nos esconder
Em um canto escuro
E chorar
Pois é só o que resta