sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Aço


O frio aço
Passa deixando um rio de vida
Que se esvai
Deixando dor e prazer passageiros
Reflete o brilho de prata
Que a doce lua lança
Na esperança de iluminar
O frio e insensível aço
Que agora carrega gotas de vidas

Essa é minha vida


Essa é minha vida
Beber com meus compadres
Até cair e perder a noção de tudo
Falar alto frases sem sentido
Gritar “viva!” a algo que não sei o que é

Essa é minha vida
Criar mundos imaginários
Onde tudo posso e tudo faço
Brincar de Deus com vidas
Que crio em minha mente insana

Essa é minha
Amar sem ser amado ao menos um segundo
Se enganar sempre
Fazer tudo errado
Essa é minha vida...

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Um simples relato

Um simples relato


            Bem, por onde posso começar? Acho que vou ser clichê e contar a vocês em ordem cronológica os fatos que se sucederam comigo.
            Meu nome? Isso não é importante, os acontecimentos é que são importantes. Basta a vocês saberem que sou um homem na casa dos trinta anos, bem de vida e com vários amigos. Ah, e claro que apesar de não ser nenhum Tom Cruise, tenho meu charme. Vamos aos fatos.
            Se bem me lembro, eu estava em meu apartamento cozinhando macarrão para comer com molho de tomate e carne moída naquela noite. Tinha comprado um vinho tinto e moído a carne na hora. Coloquei o macarrão na panela para cozinhar quando meu celular tocou, era uma amiga um tanto quanto intima, se é que vocês me entendem.
- Oi meu amor! – falei assim que atendi.
- Oi! Preciso de sua ajuda! – a voz dela passava uma certa aflição. – Posso ir ai agora?
            Eu estranhei a pergunta, pois ela simplesmente chegava sem avisar sempre que queria curtir uma boa noite a dois comigo.
- Claro que pode, minha flor. – eu parei por alguns segundos – Mas, o que foi que aconteceu?
- Quando chegar ai eu te conto. Querido, acho que estou muito encrencada.
- Calma! Venha logo pra cá.
            Ela se despediu e desligou o telefone. E eu fiquei com uma curiosidade enorme. O que minha amante casual tinha feito, será que tinha matado alguém? Se envolvido com algum homem casado e a esposa traída estava em busca de vingança? As piores hipóteses passavam por minha mente, mas, nenhuma delas chegaria perto do que realmente estava acontecendo.
            Quando a comida já estava pronta e o vinho já aberto. A campainha tocou, abri a porta e tomei um susto ao vê-la com cabelos desgrenhados, maquiagem borrada e olhos vermelhos.
            Assim que me viu, jogou-se em meus braços aos prantos e soluçando.
- Eu tô morta, eu tô morta...
            A coloquei para dentro e fechei a porta do apartamento a fim de evitar vizinhos curiosos. Sentei-a no sofá e fui buscar uma taça de vinho para ela que tomou tudo de um só gole.
- Agora se acalme e me conte o que está acontecendo. – falei com uma calma anormal.
- É culpa disso aqui, tudo é culpa disso aqui! – ela gritou jogando um medalhão antigo no chão.
            Abaixe-me e peguei a peça que era de prata antiga e tinha a imagem em alto relevo de dois dragões se enroscando, formando um círculo enquanto um devorava a cauda do outro.
- Isto aqui é a causa de seus problemas?! – olhei indignado para ela – Você roubou isso de quem?!
            Ela me olhou sem entender direito a pergunta que tinha sido feita. Me ajoelhei diante dela e refiz a pergunta bem calmo.
- Eu não roubei de ninguém! – ela respondeu entre lágrimas – Minha tinha morreu, e em seu testamento ela me deixou isso. Ela devia me odiar muito!
- Por quê? É uma jóia linda!
- Você tem que acreditar em mim, no que vou te contar!
- Claro meu amor. – disse complacente - Agora conte tudo.
            Ela respirou fundo e enxugou as lágrimas que escorriam pelo rosto.
- Quando recebi isso. – ela apontou para o medalhão em minhas mãos – Achei lindo, mas, em menos de três dias minha virou um inferno. Passei a ouvir passos e risos dentro de casa e na rua via vultos de coisas horríveis.
            Ela parou e me pediu mais vinho. Eu trouxe a garrafa inteira para ela, que tomou logo um gole farto.
- Eu pensava que era só impressão minha, mas, hoje apareceram essas inscrições. – ela pegou o medalhão e mostrou-me a parte de trás. Lá estava inscrito de forma clara e legível.
“ Os pecados do sangue serão pagos com sangue.”
- Que pecados são esses? – perguntei curioso e com um certo receio.
- Não sei! – ela tinha voltado a chorar .
            Eu a abracei com carinho e beijei seus lábios para acalmá-la. Ela retribuiu o beijo e me afastou com delicadeza.
- Depois que a inscrição apareceu, eu tive certeza que não era impressão minha. Os vultos que eu via na rua estavam atrás de mim.  – ela tomou outro gole – Quando me olhei no espelho hoje, vi que por trás de mim havia um velho com olhos e boca costurados tentando me abraçar.
            Enquanto ela falava lágrimas escorriam pelo seu rosto e de repente ela gritou assustada apontando para trás de mim. Virei-me rapidamente e mesmo que alguns instantes, pude ver uma criança nua, sem sexo definido com olhos e boca costurados. Minha amiga agarrou-se ao meu pescoço soluçando.
- Não deixa eles me machucarem, não deixa!
            Eu não sabia o que dizer. Segurei-a pelo braço e corremos para a porta. Ao tentar girar a maçaneta percebi que estava trancada e não importava a força que colocasse, não abria.
            Os risos começaram, primeiro infantis, inocentes, depois de velhas risonhas e maldosas. Minha amante sentou no chão encostada na porta e gritava por socorro. Pelos cantos da sala e pelo corredor eu via vultos disformes correndo de um lado para o outro.
            Os risos aumentaram e com os eles vieram também vozes de mulheres que diziam repetidamente os dizeres do medalhão:
“ Os pecados do sangue serão pagos com sangue.”
“ Os pecados do sangue serão pagos com sangue.”
“ Os pecados do sangue serão pagos com sangue.”
“ Os pecados do sangue serão pagos com sangue.”
- Que pecados são esses?! – gritei com raiva – Quem pecou?!
            Várias crianças assexuadas e com a face costurada apareceram diante de mim, elas riam e minha amiga gritava. Eu sentia vontade de chorar, mas, não conseguia. Eu sentia vontade de correr, mas, não conseguia.
            Olhei a minha volta e vi que as paredes de meu apartamento estavam cobertas por uma membrana pulsante e ensangüentada, eu vomitei, minha amiga gritou alucinadamente. A levantei do chão puxando-a com força e corremos pelos corredores em direção ao quarto. Meu coração quase parou quando olhei pela janela e em vez de ver os prédios da cidade vi corpos mutilados e retorcidos tentando entrar.
            Senti braços magros e fortes abraçando-me, me deixando imobilizado. Nós dois gritávamos, enquanto eu assistia me debatendo em vão, às crianças nefastas se aproximarem de minha amiga que estava deitada em posição fetal no chão chorando e soluçando compulsivamente. Os braços me apertavam com força, expulsando o ar de meus pulmões. As crianças estavam sobre ela, rindo. O mundo a minha volta ficou escuro.
            Quando acordei, raios de sol entravam pela janela do quarto e fustigavam meus olhos. As paredes estavam normais, o mundo lá fora também, minhas costelas intactas. Procurei por minha amiga por todo o apartamento e nada. Liguei para nossos amigos em comum, ninguém a tinha visto.
            Já estava achando que tinha sido um sonho, quando vi no chão da sala o medalhão com os dragões em alto relevo. Mas, agora não estavam devorando a cauda um do outro, e sim face a face. Com ele em mãos tive certeza que não tinha sido um sonho.
            E sejam lá quais eram os pecados cobrados.
            Eles foram pagos.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Rápida observação


O que queremos
Está distante
Porém perto demais

O que buscamos
Já foi encontrado
Mas não descoberto

O que precisamos
Nos mata
Mas é nossa vida...

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O tempo que passeia


Com os pés
Apoiados na grade de minha cela ilusória
Eu vejo o tempo passear de mãos dadas
Com o destino
Que eu descartei e chorei

Com a boca ferida
Tento partir minhas algemas de fantasia
Que não me deixam abraçar
Este mundo
Que alegra meu coração
Que parou...

domingo, 11 de dezembro de 2011

O Homem de preto - Capítulo VI


CAPITULO VI – C10

- Então é isso? – perguntou Tobias.
- É? – O Homem de preto bebeu de um só gole o copo de vodca.
- Quanto tempo você tem?
- Agora? – ele franziu a testa. – Acho que umas duas semanas.
- Por isso a pressa em chegar até a bruxa, certo? – Tobias comeu um pouco de purê de batatas.
- Ela é a melhor que existe em localizar pessoas. – ele mastigou um pedaço de frango.
            Os dois se olharam em silêncio. O Homem de preto colocou mais vodca em seu copo e riu.
- Aposto que foi a vadia que mandou aqueles dois filhotes de chupa-cabra.
- Deve ter sido. – Tobias deu de ombros. – Você tem tantos amigos não é? – o velho índio fez aspas com as mãos ao dizer amigo.
- Conseqüências meu velho, conseqüências.
            Tobias levantou-se e foi saindo da cozinha. O Homem de preto olhou intrigado.
- Ei! Pra onde você vai?!
- Espere aqui, não demoro.
- Pronto! Que diabos esse velho doido tá tramando? – pensou o homem de preto.
            Poucos instantes depois o outro voltou com uma espingarda de caça nas mãos e uma cinta com munição. Parou diante do jovem amigo rindo.
- Vamos!
- Pra que isso?!
- Eu sou um curandeiro garoto, esqueceu? – Tobias deu um cascudo nele e ficou sério – Não conheço nenhuma magia de ataque e não sei lutar muito bem. Por isso vou levar minha amiga aqui. – a tosse veio com força.
- Acho que tô começando a mudar de idéia sobre você vir comigo. – ele levantou-se e pousou a mão sobre o ombro do amigo. – É melhor você ficar e cuidar de sua saúde.
- Nem pense nisso! – disse desvencilhando-se do amigo.
- Tobias sua saúde tá frágil e essa arma não vai ser muito útil, fique.
            O índio riu alto e tossiu.
- Tolo! Você só sabe destruir e matar. – ele ergueu a arma – Sarissa colocou um encantamento de fogo aqui, ela pode causar um bom estrago!
            O Homem de preto riu e colocou as mãos nos bolsos.
- Bem, estão vamos, ainda tenho que comprar roupas novas pra mim.
            Os dois saíram e pararam diante de uma Chevrolet c10 azul. Tobias abriu a porta do lado do motorista.
- Nós vamos nisso?!
- Olha como fala moleque! Esta aqui é um clássico e é melhor que muito carro moderno. Agora entra ou vai andando.
            O Homem de preto entrou na c10 e Tobias deu a partida. O carro saiu devagar pelas ruas da cidade ganhando velocidade aos poucos a medida que se aproximava da estrada norte que era o caminho até a floresta na qual a bruxa vivia.

***

            Cailena estava às margens de um lago em sua floresta observando através das águas escuras e paradas o homem de preto e o velho índio que havia juntado-se a ele. Ela estava temerosa, não com Tobias, mas, sim com o outro. Os rumores sobre a brutalidade e o poder dele estavam mostrando-se reais.
            Ela ergueu as mãos, olhou para o céu e gritou com uma voz gutural. Nuvens começaram a se aglomerar logo acima do lago. Cailena fitou o centro do lago.
- Senhor da desolação, mestre da dor, arauto da carnificina! Filho da grande Lilith! Eu o convoco o poderoso Asriandir! – Cailena descreveu um arco com umas das mãos e uma criança em transe surgiu ao seu lado e uma adaga na outra mão. – A ti ofereço este sacrifício de carne e sangue, ó poderoso Asriandir, vinde a mim!
            Ela colocou a criança a sua frente olhando para o lago e rapidamente degolou o infante, segurando a cabeça dele para que o sangue espirasse nas águas escuras.
            O sangue escorria fartamente caindo no lago. Quando a criança estava quase no fim de sua vida Cailena jogou-a nas águas diante de si gritando.
- Asriandir! Asriandir! Eu invoco a ti!
            As águas do lago se moveram em redemoinho e aos poucos uma criatura foi erguendo-se de seu centro. Seu torso era escuro como ébano e robusto, seus braços terminavam em garras poderosas, a boca era repleta de dentes de tubarão, os olhos poços de lava, chifres de carneiro brotavam-lhe da testa e da cintura para baixo era um corpo de pantera com cauda de escorpião. Ele facilmente alcançava o tamanho de um elefante e trazia nas garras o corpo da criança ainda agonizante.
- Seu sacrifício foi aceito com prazer mulher. – disse Asriandir com uma voz rouca e tenebrosa devorando o corpo infantil.
            Cailena riu alto. Trovões soaram ao longe anunciando uma tempestade.

***

O Homem de preto olhou pela janela da C10 o horizonte e viu que uma tempestade aproximava-se e riu. Tobias olhou para ele intrigado.
- O que foi? – perguntou o velho.
- Vai chover.
- E daí?
- Gosto muito de chuva!
- Agora entendi. -  Tobias riu – Tá ai uma coisa que não se vê todo tempo!
- O que? – Perguntou o Homem de preto.
- Você dizendo que gosta de alguma coisa.
            Os dois amigos riram. E o Homem de preto lembrou-se de um tempo em que risadas como aquelas eram constantes e o riso morreu em sua garganta.
            Porque ele sabia que esses tempos não voltam mais.
- Acelera. Essa estrada é uma merda quando chove.
            Tobias acelerou levantando poeira, aproximando-se cada vez mais da floresta da bruxa.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O tempo passa


A mão treme
A boca está seca
A respiração ofegante
O tempo passa

Os olhos ardem
Os ossos doem
Os sons mudam
O tempo passa

O mundo deteriora-se
O sol extingue-se
As estrelas morrem
O tempo passa

O relógio para
O rio seca
As montanhas erodem
O tempo passa

O tempo simplesmente...
Passa

domingo, 20 de novembro de 2011

Tic, tac


Tic, tac
Tic, tac
O som me enlouquece
Tic, tac
Tic, tac
Quisera eu que fosse o relógio
Tic, tac
Tic, tac
Este é o som de minha alma
O som de uma alma
Que está prestes a explodir
O som da ruína de um ser
Tic, tac
Tic, tac
O tempo se esgota

Tic

Tac

Tic...

É o fim.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O Homem de preto - Capitulo V


CAPITULO V – Devaneio, cura, reencontro.

            A mulher lhe sorria amavelmente, seus cabelos castanhos longos e cacheados, eram agitados pelo vento da praia. O sol caia devagar no horizonte, o céu estava vermelho. O homem de preto olhava para ela atônito, sua voz estava presa na garganta. Ele já tinha vivido aquilo, só não lembrava quando.
            Ela caminhou devagar até ele estendendo-lhe a mão. O Homem de preto tocou as pontas dos dedos da mulher, logo suas mãos se entrelaçaram e os corpos estavam juntos em um forte abraço. Ele fitou os doces olhos azuis dela e inclinou a cabeça até os narizes se encostarem. Foi então que tudo desmoronou.
            O cheiro de podridão invadiu o olfato como ácido, fazendo-o afastar-se da mulher. Ele a fitou e o pavor se estampou em seu rosto, pois diante de si a carne dela rapidamente se deteriorava e era consumida por vermes.
- Venha... Me possua... Faça amor comigo – ela caminhava em direção ao Homem de preto.
            Ele apenas a olhava, via a carne cair aos pedaços de seu corpo e ela vir em sua direção. Não movia um músculo sequer, o que sentia era uma mistura de medo, repulsa, pena e raiva.
            Ela tocou-lhe o rosto e ele gritou.

***

            O suor escorria por todo seu corpo, era só um pesadelo. Mas tinha sido muito real. O Homem de preto olhou a sua volta, estava num quarto sem janelas, com um único móvel, a cama de solteiro na qual ele estava em cima.
            Ele olhou para a ferida no ombro, estava cicatrizada e ataduras envolviam seu tórax, perguntou-se onde estaria e quem cuidou de suas feridas. E como se para que responder suas perguntas, a porta do quarto se abriu e por ela passou um homem alto, com traços indígenas, cabelos longos e brancos, com duas tranças finas adornadas com penas, ossos e pedras que pendiam ao lado dos olhos sérios.
            O Homem de preto deu um meio sorriso, havia descoberto onde estava. O lugar pertencia a Tobias Burian, o curandeiro. Mas tinha um problema, ele não morava naquela cidade.
Quando seus olhos se cruzaram com os de Tobias ele se lembrou de um tempo que há muito tentava esquecer. O olhar dele era frio como as geleiras árticas. Ele caminhou devagar até o homem de preto que desviou o olhar.
- No que você se meteu meu amigo? – Sua voz era grossa, mas expressava verdadeira preocupação.
- Em muita merda!    
            Tobias sentou-se na cama.
- Como me achou e sabia que precisava de ajuda?
- Eu coloquei um feitiço de condição em todos do bando desde a última vez que nos vimos. – ele viu a expressão de quem não entendeu nada no rosto do amigo e riu – É um feitiço que monitora a saúde dos alvos.
- Nunca fui bom nessas coisas.
            Ele puxou do bolso um cordão com vários cristais brutos que brilhavam na cor azul, com exceção de um, que emitia um brilho púrpura.
- Este é você. – Tobias apontou para o púrpura – Sabe porque ele emite um brilho diferente dos demais não é?
- Posso imaginar. – o Homem de preto passou a mão pelos cabelos e suspirou profundamente.
- Bem... – o velho índio respirou com força – Ontem à noite o seu cristal mudou de cor, ficou vermelho. O que significava que você estava perto da morte...
            Tobias respirou com mais força ainda e colocou a mão no peito. O Homem de preto saltou da cama e parou de frente para ele com a mão nos ombros do mesmo.
- Tobias, o que você tem?! – perguntou alarmado.
- Nada! – disse o velho afastando as mãos do amigo – Agora sente-se e me deixe terminar de contar a história.
            Ele encarou o velho medindo forças com o olhar, mas, no fim cedeu.
- Tá!
- Eu vim até a cidade atrás de você. Fiquei sabendo sobre o que aconteceu na igreja e senti que estaria com problemas. – ele respirou com dificuldade novamente – E assim que pisei aqui o cristal mudou de cor e pra te achar foi só seguir sua energia peculiar.
 - Obrigado! – disse o homem de preto - Mas, como soube das coisas que eu estava fazendo?
- Ora, você é o Homem de preto não é?! – riu alto Tobias – mesmo sem saberem os motivos, as pessoas sabem que você está agindo e sentem medo. Daí as fofocas rolam soltas.
            Os dois ficaram calados por um tempo sem se olharem.
- Eu agradeço o que você fez por mim, mas, agora tenho que ir. – o Homem de preto ia se levantando da cama quando Tobias segurou seu braço o detendo.
- Escute, o caminho que você está seguindo ainda tem volta. – o olhar do velho exalava preocupação – Não se deixe dominar.
- Ninguém está me dominando. – ele segurou as mãos de Tobias entre as suas – Estou completamente ciente de meus atos.
- Então você sente prazer em trabalhar como mercenário pra qualquer ser sobrenatural que pague bem.
            O Homem de preto respirou fundo o fitou e abriu um sorriso cínico nos lábios.
- Às vezes nem precisa pagar bem.
- Você mudou muito.
- As pessoas mudam, e eu tive que mudar pra sobreviver. – seu olhar irradiava raiva – Minha vida virou uma bosta desde aquele dia. Eu só fiz me foder de lá até aqui.
- Eu sei, estava lá lembra? – Tobias abaixou a cabeça – E foi por isso que se afastou de tudo e de todos.
- Era isso ou levar todo mundo pra fossa comigo.
- Mas agora você não tem contrato nenhum. – ambos se fitaram – Eu pesquisei, falei com Drake e ele me disse que você tem recusado contratos.
            Ele fez uma pausa, esperando uma resposta que não veio.
- Me fala o que você tá fazendo?
- Infelizmente é melhor você não saber, tem muito em jogo e não quero que você corra risco algum por minha causa.
- Olha pra mim, já tô perto de morrer. – Tobias sorriu – Se não puder ajudar um amigo de que adianta ter vivido.
- Mesmo que essa ajuda possa custar sua vida?
            Tobias riu alto.
- Mesmo assim. Você perdeu tudo por nós, dar minha vida pra te ajudar é o mínimo que eu poderia fazer.
            O Homem de preto cruzou os braços e fechou os olhos. Para qualquer outra pessoa ele estaria pensando no assunto, mas, Tobias sabia o que estava acontecendo e não gostava nada daquilo.
- Tá ok! – ele riu e esticou a mão para o velho que apertou a mesma.
- Venha você deve estar com fome não é? – disse Tobias se levantando da cama – Ainda deve ter frango e purê de ontem.
- Tem vodca?
- Tem.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Além ao longe

Venha a mim
Ouça o chamado de tua alma
Sinta o arranhar da agonia em teu corpo

Venha a mim
Cavalgue pelos vales nebulosos
Cruze os oceanos do desespero

Venha a mim
Encontra em meu ser
Teu destino e tua morada
Teu início e teu fim
Teu suplício e teu prazer

Venha a mim
O moldador de sonhos

Venha a mim
Pois eu sou aquele que está
Além ao longe

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Anjo Renegado


Como um anjo renegado
Vivi minha vida
Sem pátria, paz, amor ou esperança

Como um anjo renegado
Deixei as trevas e a tristeza tomarem conta do meu coração
Vaguei por entre os becos escuros da vida
Escondendo-me dos olhares de todos
Ocultando minha vergonha
Com medo de encarar a mim mesmo

Como um anjo renegado
Desdenhei de tudo e todos
Gritei ofensas ao vento

Como um anjo renegado
Chorei sangue
Encolhido nas trevas

quinta-feira, 21 de julho de 2011

O Homem de preto - Capitulo IV

CAPITULO IV – Caçado


            O cansaço estava cobrando seu preço. Quando ele percebeu que alguém tinha invadido o apartamento e abriu os olhos, a criatura estava saindo das sombras e o atacando com as garras. Só teve tempo de se desviar um pouco e foi ferido no ombro direito. Se jogou para fora da cama e observou o que se passava.
Um ser que lembrava um cruzamento entre homem e corvo, tinha saído das sombras do teto e o atacado, agora estava sobre a cama. Outra criatura igualzinha a primeira ia saindo devagar das sombras da porta. Seu ombro ardeu, e ele olhou para a ferida que estava negra. Veneno, pensou o Homem de preto.
Ele ergueu as duas mãos e invocou as duas pistolas que tanto gostava de usar. Nada aconteceu, deixando-o surpreso. As duas criaturas se olharam e avançaram sobre o homem de preto que se esquivou do que estava mais adiantado, segurou em uma das asas do mesmo e girou seu próprio corpo com força arremessando o inimigo em cima do outro oponente.
Com o choque dos dois seres o Homem de preto aproveitou a distração deles e pulou pela janela do quarto. Por sorte o prédio onde ele morava tinha como vizinho um pequeno armazém, cujo telhado acabou por amortecer o impacto da queda. Mas, mesmo assim a dor foi tremenda.
- Puta que pariu! – Gritou o Homem de preto ao sentir o corpo se chocando e atravessando o telhado do armazém.
            Ele levantou-se rapidamente e sentiu uma fisgada na perna e uma dor aguda nas costelas. Olhou pelo buraco no teto para a janela de seu apartamento e riu da loucura que fez. Pensou enquanto tempo passaria o efeito desse veneno que estava anulando seus poderes e se era passageiro, não teria condições de enfrentar aquelas coisas de mãos vazias, tinha que conseguir armas e um antídoto. E ele sabia exatamente aonde ir.

***
            Cailena observava toda a ação pelo seu caldeirão, sorriu quando o homem de preto tentou usar seus poderes e o veneno criado por ela os bloqueou. Também ficou furiosa ao vê-lo fugir pela janela.
            - Vão atrás dele, não o deixe escapar por nada neste mundo! – rugiu ela para suas crias.
            As duas criaturas se olharam e entraram nas sombras do quarto do Homem de preto.
            A caçada tinha apenas começado.
***

            O Homem de preto se esgueirava pelas ruas da cidade procurando sempre ficar longe das sombras. Sua respiração estava ofegante, devia ter fraturado uma ou duas costelas na queda. As pessoas que passavam por ele pensavam que fosse um louco sem camisa e descalço.
            - Puta que pariu! Tô ficando descuidado, ser pego desprevenido assim é estupidez! – ele riu cinicamente e gemeu de dor – É melhor eu correr, do jeito que a coisa tá eu morro antes de descobrir como recuperar meus poderes.
            Ele olhou para o céu, ainda estava escuro e a casa de seu amigo era longe. Tinha que arrumar uma solução para seus inimigos. Tossiu e um pouco de sangue escorreu por sua boca, uma luz se acendeu em sua mente. O Homem de preto correu para o beco mais próximo e revirou o lixo até achar uma garrafa de vidro.
            - Espero que funcione. – ele quebrou a garrafa e com o gargalo cortou a palma da mão.
            Rapidamente ele começou a traçar pelo chão e paredes vários símbolos místicos com seu sangue. Era um dos poucos feitiços que tinha aprendido com uma feiticeira amiga sua.  A invocação dos demônios do sangue, causava muita dor ao invocador enquanto parte de seu sangue era sugado pelos poros para materializá-los.
            As sombras se moveram pelo beco e delas as criaturas saíram com os olhos brilhando na escuridão. O Homem de preto sorriu cerrando o punho, o que fez uma gota de sangue cair no circulo que ele tinha traçado e no qual estava dentro.
            Todos os símbolos brilharam intensamente na cor rubra, e o Homem de preto gritou enquanto o sangue de seu corpo sai pelos poros dando forma a uma criatura que lembrava vagamente um ser humano, com garras, chifres e um brilho verde nos olhos. Os seres que o estavam caçando se olharam sem entender o que acontecia e avançaram contra seus oponentes.
            O primeiro homem-corvo atacou com as garras dos pés saltando sobre o inimigo, o demônio riu e deixou-se ser acertado. As garras penetraram no sangue denso do qual era feito o corpo do ser invocado e o mesmo agarrou o oponente rasgando-o ao meio.
A outra criatura ao ver isto parou e tentou fugir, o demônio usou o sangue nas paredes para criar correntes que seguraram o homem pássaro que se debatia em desespero.
- Vem aqui passarinho, vem. – a voz do demônio era grotesca e sarcástica. Ele se aproximava bem devagar de sua vitima.
            Ele parou, olhou para trás e viu que o Homem de preto estava quase desmaiando por causa da perda de sangue. Seu tempo na terra estava acabando. Transformou o braço em uma lâmina e abriu o inimigo de baixo para cima, deixando as entranhas caírem ao chão.
- Logo vai chegar sua vez, vagabunda! – o demônio olhava para cima enquanto se desfazia e ria, retornando para o lugar tenebroso de onde viera e o homem de preto perdia os sentidos.

***

            Ela sabia que o demônio olhava-a de volta através do caldeirão. O coração de Cailena gelou e pela primeira vez em séculos ela se lembrou o que era sentir medo. Quem era aquele homem capaz de invocar tal ser, se perguntava enquanto via o feitiço feito por ele se desfazer.
            Quando o demônio se desfez por completo ela sentiu uma forte energia e o caldeirão explodiu lançando-a longe.
            O corpo de Cailena tremou todo, pois logo seria sua vez.


quarta-feira, 20 de julho de 2011

Visões

Os pássaros da morte
Pairam nos céus
Rasgando as negras nuvens
Tentando alcançar as rosas das trevas que cobrem meu caminho

Eles se lançam sobre mim
Como a foice do ceifador vai em direção ao milho
Corro como uma virgem corre do estuprador
Sentindo os espinhos
Rasgarem minha carne
E o sangue cair ao chão
Alimentando as rosas
Salientando rostos disformes em agonia

Os servos da morte
Levam-me ao chão com seus bicos e garras
Fazendo-me sentir
O aroma doce e maldito
Das rosas negras

Ergo a mão na esperança de salvar-me
E toco em tua face
Pálida e fria
Mas amiga
Quem sabe até amante
Os pássaros param sua refeição
E formam um corredor
Por onde vens até mim
Como um anjo caído
Sorries para mim

Tu me coloca em teus finos braços
E os pássaros cantam um canto
De dor e prazer
Amor e ódio
E dançam nos céus um balé macabro
Que faz o firmamento oscilar

Tu me abraça com força
De encontro ao teu seio pequeno
Me olhas nos olhos
Com teus negros olhos sem brilho
E me sorri com teus lábios vermelhos
Pois em teus olhos me vejo
Vejo também a ti
Dama de longos cabelos negros
Retribuo teu sorriso
E te abraço com o resto de vida que há em mim

Meu corpo não mais me obedece
Meus olhos não vêem
Meus ouvidos não ouvem
Não sinto mais dor

Descansarei feliz em teu colo
Enquanto as trevas me quiserem
E enquanto tu Dama de nome Morte
Quiseres que a moça de nome Vida
Não me toque

Em teu colo me senti mais vivo
Que no colo dela
E em teus braços mais seguro
Em tua presença
Encontrei paz sem fim
Nos teus olhos
Tive as mais belas visões que nunca tive com ela
A Dama de nome Vida
Que me deixou
Enamorar-me por ti
Minha Dama de nome Morte 

A saudade

A saudade chega para conversar
Toma chá e come biscoitos
Enquanto lembra-me
Do tempo que já se foi
Um tempo que nada me abatia
Um tempo que agora está morto
Mas, não sepultado
A saudade despede-se de mim
Mas deixa-me as boas recordações
Do bom tempo
Que já não volta mais

A estrela caída

Do esplendor do céu
Cai a estrela
Que um dia brilhou
E as trevas afastou
Hoje já não brilha mais
E as trevas já aceitou
Pois do esplendor do céu
Caiu e se distanciou
Para lá não mais brilhar
E encobrir-se nos véus das trevas
Onde agora brilhará