domingo, 11 de dezembro de 2011

O Homem de preto - Capítulo VI


CAPITULO VI – C10

- Então é isso? – perguntou Tobias.
- É? – O Homem de preto bebeu de um só gole o copo de vodca.
- Quanto tempo você tem?
- Agora? – ele franziu a testa. – Acho que umas duas semanas.
- Por isso a pressa em chegar até a bruxa, certo? – Tobias comeu um pouco de purê de batatas.
- Ela é a melhor que existe em localizar pessoas. – ele mastigou um pedaço de frango.
            Os dois se olharam em silêncio. O Homem de preto colocou mais vodca em seu copo e riu.
- Aposto que foi a vadia que mandou aqueles dois filhotes de chupa-cabra.
- Deve ter sido. – Tobias deu de ombros. – Você tem tantos amigos não é? – o velho índio fez aspas com as mãos ao dizer amigo.
- Conseqüências meu velho, conseqüências.
            Tobias levantou-se e foi saindo da cozinha. O Homem de preto olhou intrigado.
- Ei! Pra onde você vai?!
- Espere aqui, não demoro.
- Pronto! Que diabos esse velho doido tá tramando? – pensou o homem de preto.
            Poucos instantes depois o outro voltou com uma espingarda de caça nas mãos e uma cinta com munição. Parou diante do jovem amigo rindo.
- Vamos!
- Pra que isso?!
- Eu sou um curandeiro garoto, esqueceu? – Tobias deu um cascudo nele e ficou sério – Não conheço nenhuma magia de ataque e não sei lutar muito bem. Por isso vou levar minha amiga aqui. – a tosse veio com força.
- Acho que tô começando a mudar de idéia sobre você vir comigo. – ele levantou-se e pousou a mão sobre o ombro do amigo. – É melhor você ficar e cuidar de sua saúde.
- Nem pense nisso! – disse desvencilhando-se do amigo.
- Tobias sua saúde tá frágil e essa arma não vai ser muito útil, fique.
            O índio riu alto e tossiu.
- Tolo! Você só sabe destruir e matar. – ele ergueu a arma – Sarissa colocou um encantamento de fogo aqui, ela pode causar um bom estrago!
            O Homem de preto riu e colocou as mãos nos bolsos.
- Bem, estão vamos, ainda tenho que comprar roupas novas pra mim.
            Os dois saíram e pararam diante de uma Chevrolet c10 azul. Tobias abriu a porta do lado do motorista.
- Nós vamos nisso?!
- Olha como fala moleque! Esta aqui é um clássico e é melhor que muito carro moderno. Agora entra ou vai andando.
            O Homem de preto entrou na c10 e Tobias deu a partida. O carro saiu devagar pelas ruas da cidade ganhando velocidade aos poucos a medida que se aproximava da estrada norte que era o caminho até a floresta na qual a bruxa vivia.

***

            Cailena estava às margens de um lago em sua floresta observando através das águas escuras e paradas o homem de preto e o velho índio que havia juntado-se a ele. Ela estava temerosa, não com Tobias, mas, sim com o outro. Os rumores sobre a brutalidade e o poder dele estavam mostrando-se reais.
            Ela ergueu as mãos, olhou para o céu e gritou com uma voz gutural. Nuvens começaram a se aglomerar logo acima do lago. Cailena fitou o centro do lago.
- Senhor da desolação, mestre da dor, arauto da carnificina! Filho da grande Lilith! Eu o convoco o poderoso Asriandir! – Cailena descreveu um arco com umas das mãos e uma criança em transe surgiu ao seu lado e uma adaga na outra mão. – A ti ofereço este sacrifício de carne e sangue, ó poderoso Asriandir, vinde a mim!
            Ela colocou a criança a sua frente olhando para o lago e rapidamente degolou o infante, segurando a cabeça dele para que o sangue espirasse nas águas escuras.
            O sangue escorria fartamente caindo no lago. Quando a criança estava quase no fim de sua vida Cailena jogou-a nas águas diante de si gritando.
- Asriandir! Asriandir! Eu invoco a ti!
            As águas do lago se moveram em redemoinho e aos poucos uma criatura foi erguendo-se de seu centro. Seu torso era escuro como ébano e robusto, seus braços terminavam em garras poderosas, a boca era repleta de dentes de tubarão, os olhos poços de lava, chifres de carneiro brotavam-lhe da testa e da cintura para baixo era um corpo de pantera com cauda de escorpião. Ele facilmente alcançava o tamanho de um elefante e trazia nas garras o corpo da criança ainda agonizante.
- Seu sacrifício foi aceito com prazer mulher. – disse Asriandir com uma voz rouca e tenebrosa devorando o corpo infantil.
            Cailena riu alto. Trovões soaram ao longe anunciando uma tempestade.

***

O Homem de preto olhou pela janela da C10 o horizonte e viu que uma tempestade aproximava-se e riu. Tobias olhou para ele intrigado.
- O que foi? – perguntou o velho.
- Vai chover.
- E daí?
- Gosto muito de chuva!
- Agora entendi. -  Tobias riu – Tá ai uma coisa que não se vê todo tempo!
- O que? – Perguntou o Homem de preto.
- Você dizendo que gosta de alguma coisa.
            Os dois amigos riram. E o Homem de preto lembrou-se de um tempo em que risadas como aquelas eram constantes e o riso morreu em sua garganta.
            Porque ele sabia que esses tempos não voltam mais.
- Acelera. Essa estrada é uma merda quando chove.
            Tobias acelerou levantando poeira, aproximando-se cada vez mais da floresta da bruxa.

Um comentário:

  1. Tá ficando cada vez melhor."- Senhor da desolação, mestre da dor, arauto da carnificina!" Que maravilha!!! Eu quero ver sangue.

    ResponderExcluir