quinta-feira, 21 de julho de 2011

O Homem de preto - Capitulo IV

CAPITULO IV – Caçado


            O cansaço estava cobrando seu preço. Quando ele percebeu que alguém tinha invadido o apartamento e abriu os olhos, a criatura estava saindo das sombras e o atacando com as garras. Só teve tempo de se desviar um pouco e foi ferido no ombro direito. Se jogou para fora da cama e observou o que se passava.
Um ser que lembrava um cruzamento entre homem e corvo, tinha saído das sombras do teto e o atacado, agora estava sobre a cama. Outra criatura igualzinha a primeira ia saindo devagar das sombras da porta. Seu ombro ardeu, e ele olhou para a ferida que estava negra. Veneno, pensou o Homem de preto.
Ele ergueu as duas mãos e invocou as duas pistolas que tanto gostava de usar. Nada aconteceu, deixando-o surpreso. As duas criaturas se olharam e avançaram sobre o homem de preto que se esquivou do que estava mais adiantado, segurou em uma das asas do mesmo e girou seu próprio corpo com força arremessando o inimigo em cima do outro oponente.
Com o choque dos dois seres o Homem de preto aproveitou a distração deles e pulou pela janela do quarto. Por sorte o prédio onde ele morava tinha como vizinho um pequeno armazém, cujo telhado acabou por amortecer o impacto da queda. Mas, mesmo assim a dor foi tremenda.
- Puta que pariu! – Gritou o Homem de preto ao sentir o corpo se chocando e atravessando o telhado do armazém.
            Ele levantou-se rapidamente e sentiu uma fisgada na perna e uma dor aguda nas costelas. Olhou pelo buraco no teto para a janela de seu apartamento e riu da loucura que fez. Pensou enquanto tempo passaria o efeito desse veneno que estava anulando seus poderes e se era passageiro, não teria condições de enfrentar aquelas coisas de mãos vazias, tinha que conseguir armas e um antídoto. E ele sabia exatamente aonde ir.

***
            Cailena observava toda a ação pelo seu caldeirão, sorriu quando o homem de preto tentou usar seus poderes e o veneno criado por ela os bloqueou. Também ficou furiosa ao vê-lo fugir pela janela.
            - Vão atrás dele, não o deixe escapar por nada neste mundo! – rugiu ela para suas crias.
            As duas criaturas se olharam e entraram nas sombras do quarto do Homem de preto.
            A caçada tinha apenas começado.
***

            O Homem de preto se esgueirava pelas ruas da cidade procurando sempre ficar longe das sombras. Sua respiração estava ofegante, devia ter fraturado uma ou duas costelas na queda. As pessoas que passavam por ele pensavam que fosse um louco sem camisa e descalço.
            - Puta que pariu! Tô ficando descuidado, ser pego desprevenido assim é estupidez! – ele riu cinicamente e gemeu de dor – É melhor eu correr, do jeito que a coisa tá eu morro antes de descobrir como recuperar meus poderes.
            Ele olhou para o céu, ainda estava escuro e a casa de seu amigo era longe. Tinha que arrumar uma solução para seus inimigos. Tossiu e um pouco de sangue escorreu por sua boca, uma luz se acendeu em sua mente. O Homem de preto correu para o beco mais próximo e revirou o lixo até achar uma garrafa de vidro.
            - Espero que funcione. – ele quebrou a garrafa e com o gargalo cortou a palma da mão.
            Rapidamente ele começou a traçar pelo chão e paredes vários símbolos místicos com seu sangue. Era um dos poucos feitiços que tinha aprendido com uma feiticeira amiga sua.  A invocação dos demônios do sangue, causava muita dor ao invocador enquanto parte de seu sangue era sugado pelos poros para materializá-los.
            As sombras se moveram pelo beco e delas as criaturas saíram com os olhos brilhando na escuridão. O Homem de preto sorriu cerrando o punho, o que fez uma gota de sangue cair no circulo que ele tinha traçado e no qual estava dentro.
            Todos os símbolos brilharam intensamente na cor rubra, e o Homem de preto gritou enquanto o sangue de seu corpo sai pelos poros dando forma a uma criatura que lembrava vagamente um ser humano, com garras, chifres e um brilho verde nos olhos. Os seres que o estavam caçando se olharam sem entender o que acontecia e avançaram contra seus oponentes.
            O primeiro homem-corvo atacou com as garras dos pés saltando sobre o inimigo, o demônio riu e deixou-se ser acertado. As garras penetraram no sangue denso do qual era feito o corpo do ser invocado e o mesmo agarrou o oponente rasgando-o ao meio.
A outra criatura ao ver isto parou e tentou fugir, o demônio usou o sangue nas paredes para criar correntes que seguraram o homem pássaro que se debatia em desespero.
- Vem aqui passarinho, vem. – a voz do demônio era grotesca e sarcástica. Ele se aproximava bem devagar de sua vitima.
            Ele parou, olhou para trás e viu que o Homem de preto estava quase desmaiando por causa da perda de sangue. Seu tempo na terra estava acabando. Transformou o braço em uma lâmina e abriu o inimigo de baixo para cima, deixando as entranhas caírem ao chão.
- Logo vai chegar sua vez, vagabunda! – o demônio olhava para cima enquanto se desfazia e ria, retornando para o lugar tenebroso de onde viera e o homem de preto perdia os sentidos.

***

            Ela sabia que o demônio olhava-a de volta através do caldeirão. O coração de Cailena gelou e pela primeira vez em séculos ela se lembrou o que era sentir medo. Quem era aquele homem capaz de invocar tal ser, se perguntava enquanto via o feitiço feito por ele se desfazer.
            Quando o demônio se desfez por completo ela sentiu uma forte energia e o caldeirão explodiu lançando-a longe.
            O corpo de Cailena tremou todo, pois logo seria sua vez.


quarta-feira, 20 de julho de 2011

Visões

Os pássaros da morte
Pairam nos céus
Rasgando as negras nuvens
Tentando alcançar as rosas das trevas que cobrem meu caminho

Eles se lançam sobre mim
Como a foice do ceifador vai em direção ao milho
Corro como uma virgem corre do estuprador
Sentindo os espinhos
Rasgarem minha carne
E o sangue cair ao chão
Alimentando as rosas
Salientando rostos disformes em agonia

Os servos da morte
Levam-me ao chão com seus bicos e garras
Fazendo-me sentir
O aroma doce e maldito
Das rosas negras

Ergo a mão na esperança de salvar-me
E toco em tua face
Pálida e fria
Mas amiga
Quem sabe até amante
Os pássaros param sua refeição
E formam um corredor
Por onde vens até mim
Como um anjo caído
Sorries para mim

Tu me coloca em teus finos braços
E os pássaros cantam um canto
De dor e prazer
Amor e ódio
E dançam nos céus um balé macabro
Que faz o firmamento oscilar

Tu me abraça com força
De encontro ao teu seio pequeno
Me olhas nos olhos
Com teus negros olhos sem brilho
E me sorri com teus lábios vermelhos
Pois em teus olhos me vejo
Vejo também a ti
Dama de longos cabelos negros
Retribuo teu sorriso
E te abraço com o resto de vida que há em mim

Meu corpo não mais me obedece
Meus olhos não vêem
Meus ouvidos não ouvem
Não sinto mais dor

Descansarei feliz em teu colo
Enquanto as trevas me quiserem
E enquanto tu Dama de nome Morte
Quiseres que a moça de nome Vida
Não me toque

Em teu colo me senti mais vivo
Que no colo dela
E em teus braços mais seguro
Em tua presença
Encontrei paz sem fim
Nos teus olhos
Tive as mais belas visões que nunca tive com ela
A Dama de nome Vida
Que me deixou
Enamorar-me por ti
Minha Dama de nome Morte 

A saudade

A saudade chega para conversar
Toma chá e come biscoitos
Enquanto lembra-me
Do tempo que já se foi
Um tempo que nada me abatia
Um tempo que agora está morto
Mas, não sepultado
A saudade despede-se de mim
Mas deixa-me as boas recordações
Do bom tempo
Que já não volta mais

A estrela caída

Do esplendor do céu
Cai a estrela
Que um dia brilhou
E as trevas afastou
Hoje já não brilha mais
E as trevas já aceitou
Pois do esplendor do céu
Caiu e se distanciou
Para lá não mais brilhar
E encobrir-se nos véus das trevas
Onde agora brilhará